Requerimento à mesa!

Quando era dirigente estudantil, participei em várias reuniões com outros representantes estudantis (vários deles são assessores ou deputados). Alguns dos encontros eram maratonas de debate vazio e de expedientes regimentais – usados para só votar propostas com a certeza de ter a maioria no plenário. Era frequente votar às 2 ou 3 da manhã propostas inseridas à hora de almoço do dia anterior.

O jogo era uma roleta russa. Os blocos formados eram complexos, de natureza partidária e de subsistema, mas também dependentes de relações pessoais. No geral, houve um gasto de energia com um efeito real muito limitado, mas esta experiência marcou algumas gerações de dirigentes estudantis. Na guerra hobbesiana, descobri a face negra de vários, mas também tive solidariedade e apoio sem o esperar, oriundo de gente do campo oposto.

Uma das tácticas usadas para adiar a votação era o requerimento à mesa. O expediente servia também para fazer contagens de cabeça e medir a temperatura da sala: ‘passar à votação de imediato’, ‘adiar a decisão para o próximo encontro’ eram decisões que não versavam sobre o conteúdo das propostas em causa, mas serviam para avaliar o nível de apoio à proposta na assembleia e o seu estado de espírito.passos portas

Passos pediu a Cavaco que o indigite. É provável que o Presidente o faça, sabendo que ao governo PSD-PP espera uma queda imediata. Talvez Cavaco pense em forçar um governo de gestão de Passos, mesmo com uma maioria adversa no Parlamento. Mas tentando-o, porá em causa a eleição de Marcelo para a Presidência. Como é que o eleitorado vai encarar Marcelo, apoiado pela direita, se Cavaco der a mão a Passos e Portas e criar uma crise política dilacerante?

Parece-me evidente que obrigar o Parlamento a votar a demissão do governo da coligação serve 3 propósitos. Por um lado, afirma que a legitimidade cabe à formação política mais votada e não à maioria formada no Parlamento. Por outro lado, remete para os partidos o problema, evitando co-responsabilizar Cavaco pela solução de um governo PS apoiado pela esquerda. E, finalmente, mede a resolução de Costa e a coesão interna do grupo parlamentar do PS. Por esse lado, trata-se de um clássico requerimento à mesa

Não é só Costa que joga a sobrevivência política. Para Passos poder aguentar internamente, tem de ficar clara a hipótese de regressar ao poder em breve. Se as oposições internas no PS, no PCP e no BE se deixarem estar quietas, em breve começa a aprendizagem e limpeza interna no PSD. Não esqueçamos que se este acordo de esquerda é possível em 2015, isso deve-se muito ao radicalismo da coligação de direita e ao seu programa de destruição.delegação PS

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